PERFECT BLUE

Pāfekuto Burū (パーフェクトブルー), Japão, 1997, Thriller/Mistério, 81 minutos

Direção: Satoshi Kon

Elenco: Junko Iwao, Rica Matsumoto, Masaaki Ōkura             

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 16 ANOS

Contém: Violência Extrema

Áudio original em japonês, legendas em português

Procurar conforto na ficção é algo pode atrair o público para uma determinada obra. Estar num ambiente criado, com linhas claras de desenvolvimento, começo, meio e fim, é algo que pode nos dar controle. E mesmo que não dê, pelo menos não nos traz consequências, é apenas ficção. Perfect Blue não se enquadra em nada dito até aqui. É desconfortável, chocante, se desenvolve em espirais, pegando o espectador e o extraviando em delírios. Usando de metalinguagem para retirar sua noção de tempo e espaço, o filme o desarma de qualquer forma de controle.

Dentro da indústria cultural japonesa moderna existem as Idols, figuras artísticas do mundo pop que se apresentam cantando, dançando e realizando outras formas de presença no entretenimento, enquanto mantém publicamente uma figura que representa inocência, responsabilidade, juventude e beleza (dentro dos padrões). O filme se inicia com Mima Kirigoe, uma Idol e a protagonista dessa história, em um grupo chamado CHAM!. É o seu último show junto ao grupo, pois ela deixará a carreira de cantora para se tornar uma atriz. Porém, esse redirecionamento profissional se torna o estopim de um suspense psicológico que leva a protagonista, e também aquele que assiste, a não conseguir distinguir entre quem realmente é Mima, o que de fato acontece e o que seria a realidade.

Entre as diversas dificuldades que cercam uma figura pública, Mima vivencia, durante sua mudança de imagem, obsessões alheias em relação a persona que ela representava nos palcos. Ao mesmo tempo que nasce uma Mima que não mais é símbolo de uma pureza artificializada, seu próprio fantasma lhe assombra. Um fantasma que se alimenta não apenas da deterioração psicológica, mas também das expectativas que foram vendidas aos seus fãs quando ela ainda era uma Idol. Essas fantasias se aglutinam para tomar espaço da realidade. Porém, o que é real e o que é fantástico? Talvez tudo seja apenas um grande pesadelo do qual a saída é relembrar de quando tudo era perfeitamente azul.

  Lucas Henrique Sant’Anna