Orlando, Reino Unido/ Itália/ França/ Países Baixos/ Rússia, 1992, Drama/Romance, 93 minutos
Direção: Sally Potter
Elenco: Tilda Swinton, Billy Zane, Quentin Crisp, John Bott
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS
Contém: Relações Humanas, Diálogo Adulto
Áudio original em inglês, legendas em português
O que significa ser homem? O que significa ser mulher? Qual é a relevância do gênero de um indivíduo em uma sociedade binarista, que divide as pessoas em dois extremos, com papéis, direitos e expectativas diferentes?
O filme, baseado na obra de Virgínia Woolf de 1928, acompanha a história de Orlando, condenado, em torno de 1600, à juventude por toda a eternidade. Conforme os séculos passam, vemos o personagem se adaptar a diferentes contextos históricos, estilos de vida, paixões e ambições. Em certo ponto, Orlando passa dias dormindo, sem sair da cama, em uma espécie de metamorfose, acordando, então, com outro sexo, e tido, portanto, como mulher. Enquanto homem, conquistou títulos, propriedades e muito respeito da sociedade. Depois de reconhecida como mulher, perdeu tudo isso, e vivenciou todos os desprazeres e dificuldades de subjugamento que privam as mulheres de seus direitos.
É bastante interessante a forma como as questões de identidade e de expressão de gênero são abordadas. Muitos personagens são interpretados por atores e atrizes de gênero oposto, o que causa no espectador um estranhamento reconfortante dentro da proposta da história, trazendo uma imersão maior àquele universo e às pautas abordadas. Ao mesmo tempo, sentimos uma familiaridade constante com Orlando, que não muda sua essência ao transitar entre gêneros.
A fotografia é impecável, os figurinos são belíssimos, a androginia é inserida com naturalidade e muitas cenas parecem terem sido pintadas à mão. A quebra da quarta parede é sempre bastante impactante, mesmo quando de forma sutil, e contribui, significativamente, para com o sentimento de conexão com o protagonista.
Com tudo isso, a adição de “A Mulher Imortal” na versão brasileira do título original da obra soa como uma interpretação equivocada. Quando Orlando se olha no espelho pela primeira vez enquanto “mulher”, a fala, fortíssima, vem em seguida: “Outro sexo, mesma pessoa”.
Vitória Sirius