Pickpocket, França, 1959, Drama, 74 minutos
Direção: Robert Bresson
Elenco: Martin LaSalle, Marika Green, Jean Pelegri
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS
Contém: Diálogo adulto
Áudio original em francês, legendas em português
Ce film n’est pas du style policier (Esse filme não é um policial), com essa frase o filme se inicia, e de fato trata-se de um bom resumo para a narrativa contada através do diário de Michel, um batedor de carteiras na metrópole parisiense, acompanhando as turbulências e os laços que são desenvolvidos graças a seu criminoso e tentador ofício, um caminho tortuoso até a redenção por amor.
Com uma atuação propositalmente morna, porém esplêndida de Martin LaSalle, ator que apesar de amador traz uma das performances mais memoráveis da película, o filme conta a história de uma perspectiva moralmente neutra, quase minimalista, o que além de casar excepcionalmente com a fotografia de Bresson, traz a grande graça do filme. O julgamento moral parte exclusivamente do espectador, há um conflito ético implícito na contraposição do carisma de Michel com seus atos, no charme coreográfico dos batedores de carteira e na ética das suas ações, conflito esse que deve ser concluído pelo observador.
Ainda sobre a fotografia, ela praticamente carrega o suspense do filme, a maestria dos passos coreografados dos personagens misturada com a minuciosa atenção aos gestos e detalhes traz uma tensão extremamente satisfatória às cenas de roubo, dosado pela contraposição da rigidez dos ângulos, a frieza da edição e a pouca presença musical dos momentos mais cotidianos do filme, o que faz os momentos tensos ainda mais especiais.
Em resumo, o filme é um estudo de personagem único, contado com uma precisão de relógio, considerado um dos melhores filmes da obra de Bresson e um dos grandes nomes do cinema de arte. Um filme inspirado por clássicos como Crime e Castigo de Dostoievski, que inspirou clássicos como Taxi Driver (1976) de Paul Schrader.
Vinícius Marcatti