Em 2021, para comemorar o aniversário de 40 anos do Cineclube do CDCC, estão sendo sugeridos filmes sobre várias obras de distintos países, cada qual com a sua influência e sua relevância para a nossa amada sétima arte. No segundo mês da programação especial, abril, será abordada a Nouvelle Vague Francesa.

No final da década de 1950, surge na França o movimento artístico da Nouvelle Vague (Nova Onda), uma corrente que operou puramente nas artes cinematográficas. Devemos ter em mente que o contexto geopolítico da época o qual o mundo estava inserido era o da Guerra Fria, o embate político-ideológico entre os dois principais vitoriosos da Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos da América, liderando o bloco Capitalista, e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que liderava o bloco socialista. Com a bipolarização mundial e a ajuda financeira fornecida pelos Estados Unidos, após a Segunda Guerra (conhecida como Plano Marshall), a França, em recuperação infraestrutural e socioeconômica, entrou para o Bloco Capitalista.

Assim, surgiram pela Europa vários movimentos de cinema novo, entre eles, o mais importante foi a Nouvelle Vague. Sabe-se que uma importante revista, conhecida como “Cahiers du Cinemá”, tinha redatores muito críticos em relação ao cinema francês, então o editor chefe da revista lançou o desafio deles mesmos lançarem seus próprios filmes, o que culminou em 1958 com o lançamento do filme Nas Garras do Vício de Claude Chabrol, o que podemos considerar como o filme precursor do movimento, sendo seguido posteriormente por Acossado (1960), de Jean-Luc Godard, e Os Incompreendidos (1959), de François Truffaut, que consolidaram o novo movimento cinematográfico.

Com essa particular origem, observamos que se tratou de uma nova forma de como fazer cinema, realizada de maneira mais autoral, criando assim o conceito de diretor-autor nas obras. Dessa maneira, o diretor tinha mais controle sobre os projetos, que seriam feitos de modo mais artístico, semelhante a um artista plástico que desenha sua tela, pois tem total controle sobre cada detalhe da sua obra. Além disso, o movimento teve forte influência do manifesto de Alexandre Astruc, que descreveu a característica conhecida como “Caméra Stylo”, que consiste em colocar o próprio diretor na obra, para que, por meio do filme, ele possa abordar as temáticas que quiser de maneira mais aprofundada.

Por fim, podemos listar como características mais gerais do movimento, grande experimentação e inovação nas obras, além da forte presença da cultura francesa nas produções e do seu cotidiano, como meio de valorizá-la e exportá-la para o mundo. Existiram também obras amadoras em alguns aspectos (algumas inclusive chegando a não possuir um roteiro) e de baixíssimo orçamento, outras vezes muito documentais, não lineares ou pouco preocupadas com o entendimento do público. Além do mais, percebemos que, em relação ao conflito da Guerra Fria, os filmes possuem um carácter mais pacifista. Até hoje, muito da inovação da Nouvelle Vague se observa em algumas produções de Cinema Cult.

 

Thiago Freire Nascimento

(Equipe do Cineclube)