La Ley de Herodes, México, 1999, Comédia, 120 minutos

Direção: Luis Estrada

Elenco: Damián Alcazar, Pedro Armendáriz Jr., Delia Casanova, Juan Carlos Colombo e Alex Cox

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 anos

Contém: Violência

Onde encontrar: YouTube

Uma ácida e polêmica obra mexicana que se apresenta como uma excelente vitrine para os filmes latino-americanos, ao possuir muitas das suas características mais pertinentes, tais como o enredo intimamente atrelado ao ambiente político, o tratamento da nua e crua realidade do país, e para esta obra em especifico também vemos bastante deboches e críticas explícitas a um partido político existente que governou o México por um determinado período (o PRI, Partido Revolucionário Institucional), exercendo então, uma sátira política sem igual. Em virtude de toda esta carga polêmica que o filme traz e por tratar suas críticas de maneira muito explícita, acaba ganhando uma profundidade muito maior, causando uma interferência no ambiente político que chega a fazer com que o próprio governo interfira em sua produção. Tendo em mente todo esse complexo contexto em que o filme foi lançado e tudo o que ele se propôs a discutir, a obra é ambientada na fictícia vila de San Pedro de los Saguaros, abrindo com a apresentação do linchamento do prefeito pela sua própria população.

Nesse momento, chega à vila um membro iniciante do PRI que será nomeado como prefeito temporário, o protagonista Juan Vargas. De início, observamos que ele almeja executar as atribuições de seu cargo de maneira ética, mas começam a aparecer vários entraves para isto, tais como a falta de verbas, a forte oposição do médico local que pretende se lançar como candidato a prefeito, entre outras coisas. Dessa maneira, vendo que a situação política local não está nada favorável, Juan pede ajuda aos seus superiores. Aparece então o secretário do Governador, Lopéz, que em momento icônico do filme, oferece uma Constituição do México, um revólver e o emblemático conselho de que a única lei realmente válida é a Lei de Herodes (basicamente, é matar ou morrer). Após o encontro, Juan começa a cair nos gracejos da corrupção, aceitando subornos enquanto vai acumulando poder enquanto acontecimentos cada vez mais pesados vão dando sequência à obra.

Assim, a trama se constrói com várias camadas de interpretação, complexidade e temas. Em análises mais superficiais, o filme seria apenas uma crítica ao governo o que para esta obra, já seria denso por si só, em virtude da maneira com que foi feita, mas acaba apresentando também a lógica operante por trás da aliciação, do desenvolvimento da corrupção e de como indivíduos se corrompem. É preciso cautela ao assistir e gerar uma compreensão a respeito do filme, em virtude de ser um objeto gerado a partir de uma ação política que possui sua complexidade, seus pormenores e sua história, mas de fato se trata de um curioso e bem desenvolvido filme, nos aspectos da construção da narrativa, desenvoltura da trama e tudo mais que, de maneira geral, se configura como uma excelente experiência cinematográfica.

Por fim, apesar do lançamento bastante conturbado, acabou recebendo o maior prestígio da Academia de Filmes do México, representado pelo prêmio Arial de melhor filme, além de ter sido premiado também pelo evento Sundance Film Festival para a categoria de cinema latino-americano.

Thiago Freire Nascimento