Brasil, 1985, Drama, 96 minutos

Direção: Suzana Amaral

Elenco: Marcelia Cartaxo, Tamara Taxman, José Dumont, Fernanda Montenegro

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 12 anos

Contém: Nudez, Drogas, Violência

Áudio em português, sem legendas

Adaptar a história de um livro para um filme se torna, essencialmente, um trabalho de tradução, onde há o desejo de recriar perfeitamente uma obra, na outra linguagem, junto do irresignável sentimento dessa impossibilidade. Com isso, podemos dizer que a tradução é uma espécie de arte do desejo. Sobre isso, George Steiner, em Apres Babel, diz: “Nós duramos. Nós duramos criativamente em razão de nossa imperativa capacidade de dizer “não” à realidade, de construir as ficções de alteridade, de um “outro” sonho querido e esperado que possa habitar nossa consciência”. Isso contextualiza o motivo da tentativa de adaptar para os cinemas uma obra tão intimista e psicologicamente complexa como A Hora da Estrela, de Clarice Lispector.

No longa, lançado em, 1985, acompanhamos Macabéa, uma jovem de dezenove anos, órfã de mãe e pai, que vai para São Paulo e acaba indo trabalhar como datilógrafa. Aqui, já de início, nos deparamos com uma protagonista que diferentemente das “heroínas” de outras obras, é apresentada como uma mulher feia, moribunda, semianalfabeta, sem nada a acrescentar ao mundo. Por conta disso, vivenciamos uma perspectiva onde a angustia existencial humana é levada ao extremo, como se a protagonista da história fosse também sua antagonista.

No decorrer da história somos apresentados a outros personagens, como um grupo de mulheres que mora na mesma pensão que Macabéa, das quais a protagonista é indiferente, um homem nordestino, que acaba tornando-se namorado da personagem, com quem são desenvolvidos os principais diálogos do filme. Há também Glória, parceira de trabalho de Macabéa. Nela, em certos pontos do filme, vemos o oposto da protagonista; uma pessoa certa de si, que sabe o que quer.

Em suma, por mais que a adaptação de uma das principais obras literárias brasileiras fosse um grande desafio, nos deparamos com uma obra cinematográfica que consegue preencher os intervalos entre as línguas, literária e audiovisual, trazendo uma tradução que faz jus a obra original.

Igor S. Santos