DIÁRIOS DE MOTOCICLETA
Diarios de Motocicleta, Argentina/Brasil/EUA 2004, Drama, 126 minutos
Direção: Walter Salles
Elenco: Gael García Bernal, Rodrigo de la Serna, Mía Maestro
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 12 anos (contém temas sensíveis)
Áudio em espanhol, legendas em português

Dois jovens argentinos de classe alta (o estudante de medicina Ernesto Guevara e o bioquímico Alberto Granado) decidem embarcar numa aventura: viajar de motocicleta através da América do Sul, indo de Buenos Aires até a Amazônia peruana. Na viagem, esperam conhecer as paisagens e a diversidade cultural da região; e além disso, Alberto tem planos de dormir com o maior número possível de mulheres ao longo do percurso. Porém, nenhum dos dois seria capaz de imaginar o quanto mudariam durante a jornada, muito menos que aquela aventura seria a semente de profundas transformações políticas na América Latina alguns anos mais tarde.

No decorrer da viagem, ambos encontram uma miríade de personagens explorados, que vivem às margens das prometidas benesses do capitalismo: gente desterrada, indígenas miseráveis, trabalhadores explorados. Um senso de indignação com a injustiça cresce aos poucos no peito de Ernesto.  Nas ruínas incas, o jovem reflete sobre a herança que o colonialismo europeu deixou na América Latina. Num leprosário, se depara com um pequeno universo que repete, em seu interior, a lógica da exclusão que dá as regras da sociedade ao redor. E, ali, Ernesto confirmará os seus nascentes ímpetos igualitários e revolucionários.

Ao longo de sua carreira, o diretor Walter Salles retratou várias facetas dos conflitos sociais e políticos do Brasil. Em Terra Estrangeira (1995), Salles se debruçou sobre a vida de brasileiros em Portugal; Central do Brasil (1998) trouxe para a tela as desigualdades regionais do país; Abril Despedaçado (2001) tematizou os conflitos agrários; e, mais recentemente, Ainda Estou Aqui (2024) lançou uma reflexão sobre a ditadura militar. Diários de Motocicleta marcou uma expansão da obra do cineasta; nele, o olhar do diretor passou das mazelas do Brasil para as tragédias sociais da América Latina. Mesmo neste contexto mais abrangente, porém, Salles soube preservar a sua sensibilidade característica: o filme é, ao mesmo tempo, um ensaio sobre as condições políticas latino-americanas, e um sutil retrato psicológico de um jovem que ainda tenta entender seu lugar no mundo.

Luan Augusto Machado de Lima

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