La Notte, Itália/França, 1961, Drama, 122 minutos
Direção: Michelangelo Antonioni
Elenco: Marcello Mastroianni, Jeanne Moreau, Monica Vitti
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS
Contém: Diálogo Adulto
Áudio em italiano em legenda em português
Notas dissonantes, quase como se comunicando numa tentativa falha de formar uma melodia, o cenário urbano, uma tomada longa de um prédio descendo aos poucos, frio, monocromático e sintético. É nessa rigidez que o filme A Noite se inicia, rigidez essa que ao passar da trama lentamente se desdobra em uma flexibilidade sincera, quase embriagada.
A trama do filme se inicia com um memento mori, Tomasso, amigo de longa data do casal principal do filme, está em leito de morte, o que parece despertar na dupla um incomodo, uma ausência. Enquanto esse borbulhar interno se contrasta com a metrópole e seu silêncio poluído por barulhos artificiais, essa inquietação, traduzida em uma necessidade quase hedonista de estímulo, os leva a uma festa na mansão de um amigo, ambiente esse que desencadeará conflitos e experiências que desafiarão a apatia do casal, convergindo a um novo amanhecer na relação dos dois. Talvez, não mais amor, mas uma pulsão, um desafio final a incomunicabilidade do relacionamento.
A fotografia é precisa, o preto e branco inevitável da filmagem é realçado com ambientes e vestimentas propositalmente monocromáticas, além do silêncio, a ausência de música, que só é rompida na segunda metade do filme onde começamos a ver um desdobramento mais orgânico da narrativa que é acompanhada esteticamente. Visualmente o filme nos leva nessa jornada crítica sobre a modernidade, a tensão entre humano e artificial, banhado em um ar existencialista.
Em essência o filme trata-se dessa dificuldade, sobre sentimentos de difícil expressão, o que faz o filme difícil até de se descrever. Em realidade, trata-se de uma experiência mais sentida do que compreendida em vários momentos. Muito pode ser escrito sobre sua proposta, sua tese e suas decisões artísticas, porém o quanto realmente é dito com palavras?
Vinícius Marcatti